5 coisas que não sabe sobre John Fante

“Fante foi um deus para mim.” Foi assim que Charles Bukowski descreveu o homem que o inspirou e a quem ele próprio viria a devolver a inspiração. Poucos anos antes de morrer, John Fante viu a sua obra republicada graças a Bukowski e uma incrível personagem que esteve esquecida durante décadas teve direito aos mais rasgados elogios.

Arturo Bandini é o protagonista de uma saga que se divide em quatro livros (A primavera há de chegar, Bandini, Estrada para Los Angeles, Pergunta ao pó e Sonhos de Bunker Hill), em Portugal editados pela Alfaguara. Fante tem outras obras importantes, mas a sua vida parece mais inacreditável do que todas elas. A Penguin Magazine conta-lhe cinco coisas que não sabe sobre o escritor.

 

Dez anos a tentar publicar

Com raízes italianas do lado do pai e da mãe, cresceu em Boulder, no estado do Colorado, no meio da pobreza. O pai trabalhava nas obras mas gastava tudo em jogo e álcool. Ainda assim, John Fante entrou para a Universidade do Colorado em 1929 mas acabou por desistir pouco depois. Só conseguia imaginar-se a escrever e, tal como Arturo Bandini, herói dos seus livros, mudou-se para Los Angeles para perseguir esse sonho.

A primavera há de chegar, Bandini deu início à saga de um jovem aspirante a escritor, uma figura autobiográfica, e chegou às livrarias em 1938.

 

Argumentista para pagar as contas

Antes de se afirmar como escritor, era argumentista. Embora poucos dos seus projetos tenham sido produzidos, John Fante assinou Restos de Um Pecado (1962), o segundo filme de Jane Fonda.

Importava-se pouco com o facto de escrever muitas vezes diretamente para o lixo. Estava ali porque precisava de dinheiro ao final do mês para pagar as contas e isso era justificação suficiente. No entanto, nunca se sentiu satisfeito. “Hollywood é um lugar mau, mata os escritores”, lamentou numa carta.

 

Apagado por Hitler

Pergunta ao pó foi publicado em 1939 e não se entende como é que, naquele momento, um livro tão intenso e bem escrito não fez de John Fante um fenómeno. Ou talvez se entenda quando entra na equação o nome Adolf Hitler. A Stackpole and Sons, editora responsável pela obra de Fante, estava a ser processada por Hitler e pelo governo alemão devido a uma publicação não autorizada de Mein Kampf.

Conclusão: o dinheiro que devia ter sido usado para promover Pergunta ao pó foi desviado para outras preocupações e despesas.

 

(Re)descoberto por Bukowski

Certo dia, na Biblioteca Pública de Los Angeles, um jovem Charles Bukowski escolheu um livro ao acaso. O nome, Fante, não lhe dizia nada mas, assim que começou a ler as primeiras palavras de Pergunta ao Pó, ficou hipnotizado.

“E ali, finalmente, estava um homem que não tinha medo da emoção. O humor e a dor estavam interligados com uma simplicidade soberba. O início daquele livro foi um enorme e louco milagre para mim”, explicou Bukowski anos mais tarde.

Consumido pela obsessão, o poeta não descansou enquanto não descobriu o paradeiro de John Fante.

 

As palavras de Fante pelos olhos de Joyce

Foi diagnosticado com diabetes em 1955 e a saúde deteriorou-se nos anos seguintes. Perdeu a visão em 1975 e foi mais ao menos por esta altura que Bukowski o encontrou. Convenceu-o a voltar a publicar as suas obras mais importantes através da Black Sparrow Press, a editora da qual Charles Bukowski era sócio. O nome de John Fante começou finalmente a ganhar o reconhecimento merecido e este fôlego inesperado devolveu-lhe a vontade de escrever. Cego, ditou os últimos livros à mulher, Joyce. Foi assim que Sonhos de Bunker Hill encerrou a saga de Arturo Bandini.

John Fante morreu a 8 de maio de 1983, já depois de lhe amputaram os pés e as pernas.

Partilhar:
Outros artigos: