«Esta coleção quer acompanhar as crianças e os jovens, para que recuperem também a esperança em si mesmos»

A reconhecida autora Margarida Fonseca Santos lança o nono título da coleção A ESCOLHA É MINHA, que aborda a adolescência e os desafios do crescimento através de histórias contadas na primeira pessoa, com diferentes narradores e perspetivas. Falámos com a escritora sobre estas histórias de vida, tantas vezes inspiradas em casos reais.

 

Depois do confinamento imposto pela pandemia, a família da Carolina decide trocar a cidade pelo campo. A jovem tem de se adaptar à nova realidade, e depressa faz amigos na escola. Mas tudo se complica quando um professor se dedica a humilhar os alunos. Confia na Mudança é uma história que aborda temas como o bullying (neste caso de uma perspetiva menos explorada), os distúrbios alimentares, as relações na escola e na comunidade, os laços de amizade e a cooperação.

Margarida Fonseca Santos responde a algumas questões sobre os temas abordados neste e nos outros  títulos da coleção juvenil A ESCOLHA É MINHA, e ajuda-nos a perceber a importância de trazer estes temas para a literatura dirigida aos mais jovens.

 

Muitos dos livros desta coleção têm como cenário a escola e mostram a marca que os professores podem deixar aos alunos. Neste caso, apresenta os extremos: dos bons e maus professores. Porque sentiu necessidade disso?

R: Primeiro que tudo, a escola é o sítio onde acontece muito do que se passa com as crianças e os jovens. Ao longo de toda uma vida ligada à pedagogia e ao trabalho com alunos de todas as idades, esbarrei com professores de todo o tipo, como é fácil de imaginar. Trazendo a memória dos meus tempos de aluna, e tentando esquecer aqueles que me humilhavam e desprezavam, valorizei muitíssimo as características dos meus excelentes professores. A pedagogia veio daí, por sentir que é fundamental sabermos que, para cada aluno, temos um papel muito especial e que temos a responsabilidade de o incentivar a crescer.
Sabemos que os professores assumem papéis (por vezes, não intencionalmente) que moldam a realidade porque os sentimos como exemplos. Quando corre bem, é extraordinário; quando corre mal, há alunos a não acreditar em si mesmos, a desenvolver medos e comportamentos pouco saudáveis, a desistir. Nas aulas de pedagogia que dou, peço: no dia em que deixarem de ter esperança nos alunos, parem de dar aulas. Se temos esta responsabilidade de estimular a curiosidade e a aprendizagem, temos de fazê-los sentir que estamos prontos para ajudar e para elogiar quando conseguem. O elogio ainda é pouco usado, nos dias de hoje, nalgumas escolas. Corrige-se em vez de comentar e ajudar a construir conhecimento. Toda esta coleção quer acompanhar as crianças e os jovens, para que recuperem também a esperança em si mesmos.

 

A violência verbal e psicológica é tão grave como a violência física, mas fica muitas vezes escondida por não se verem marcas visíveis no corpo. Tem algum conselho para os seus leitores mais jovens e adultos?

R: Bom, penso que a violência verbal e psicológica é pior do que a física. Pode ser sob a forma de uma subtil chantagem emocional, na atribuição da culpa, até chegar ao desprezo e à humilhação. Se pensarmos bem, toda a violência física é psicológica.
Gostaria muito de conseguir, através destes livros, que vejam saídas e caminhos, e que escolham o que lhes fizer mais sentido. Não dou nenhum conselho específico, isso seria moralizar os livros: mostro pistas para que saibam que existe esse poder de escolha e que não precisam de aceitar essas afrontas do dia-a-dia.
Gostaria de destacar o papel da Escola (direção de turma, direção da escola, pais e professores) na resolução de conflitos. Temos de confiar nesse apoio, como acontece neste livro (e que se baseia em momentos a que assisti). Se alguém está a atacar os seus alunos, somos todos responsáveis por mudar esse facto.

 

Conhece alguma história ou pessoas parecidas com as situações e personagens deste livro?

R: Infelizmente, sim, várias. E não são do passado, são contemporâneas. A forma como falam com as pessoas, o desprezo de se acharem superiores aos outros, o gozo de pôr à vista de outros as fraquezas de alguém, o desrespeito ao ponto de chamar burro, inútil, atrasado, incapaz (só para nomear alguns). Sou um pouquinho radical neste campo: acho que há pessoas a quem se devia barrar o acesso à profissão (neste caso, não poderiam voltar a ensinar).

 

Esta obra conta uma história pós-pandemia. Todos nós mudámos a nossa vida de alguma maneira. Qual é a mensagem que gostava de deixar aos leitores deste livro?

R: A pandemia trouxe muitas coisas, sendo a mais importante a de nos pôr a pensar nos nossos dias, nas nossas escolhas, no sossego, na falta dos amigos, nos lugares onde vivemos, na profissão, no tempo livre. Foi uma enorme oportunidade de repensar tudo. Aproveitem-na e olhem à vossa volta – há sempre algo que podemos mudar para melhor, arrisquem, vale sempre a pena.

 

Neste livro, como em livros anteriores, como A Caixa da Gratidão, a importância da ligação da escola à comunidade e a promoção da interajuda entre gerações está muito patente. É intencional ou é algo que surge naturalmente no decorrer da escrita da história?

R: Não sei bem se é intencional, será mais uma evidência ao longo da minha vida, pois tive a sorte de conviver sempre com pessoas com muito mais idade, e isso aparece sempre na escrita. Gosto de ouvir histórias e tecer conversas tranquilas. Por outro lado, dando aulas, convivi sempre com idades muito diversificadas, dos cinco aos 90. Como acredito que, quando se ensina, se aprende muito mais, ando sempre à descoberta desses mundos.
O que desejo, para o presente e para o futuro, é que se aprofunde a relação da comunidade transgeracional. Temos todos a ganhar com isso. A família é maior do que a de sangue, e a comunidade pode realmente transformar-nos em melhores pessoas.

 

Saiba mais sobre os livros e os temas abordados:

Bicicleta à Chuva
Bullying na escola e no bairro

À Sombra da Vida
A dependência, a separação dos pais

Reconstruir os Dias
O processo de luto

Está nas Tuas Mãos
Viver com uma doença crónica

Ser Quem Sou
Identidade, sexualidade e escolhas pessoais

Sem Rede
Como agir em crises ou catástrofes; a importância da solidariedade

Caixa da Gratidão
Voluntariado, lidar com a demência

Famílias em Construção
Mudanças na vida familiar, novas famílias

 

 

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