Leite Derramado – Edição Especial

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Um homem muito velho espera a morte numa cama de hospital. Começa a desfiar, para quem quiser ouvir, a história da sua linhagem, desde os antepassados portugueses que desembarcaram no Rio de Janeiro ao avô maçom que lutou pelo fim da escravatura. Lalinho evoca o nascimento de berço, a família de bom nome, os chalés e os casarões, mas percebe que, entre as paredes de um quarto de hospital, as linhagens não tiram dores.

Longe dos tempos áureos do passado, muitas figuras atravessam o espírito do ancião, mas a evocação mais forte é sempre Matilde, mulher de «riso contido» e «olhar em pingue-pongue», por quem ele se apaixonou e a quem deixou sempre as portas abertas, mesmo depois de esta desistir daquela paixão mal vivida. Toldado pela morfina e interrompido pelos queixumes da doença, o discurso do centenário Lalinho é deliciosamente pleno de omissões e falsidades, dúvidas e mistérios. Vale-nos a ironia do autor, que permite entrever verdades e não-ditos. Obra de um escritor em pleno controlo da arte narrativa, Leite derramado é uma saga familiar entrelaçada com a história do Brasil dos últimos dois séculos.

Os elogios da crítica:

«Leite derramado é um livro maior, em que Chico Buarque (…) alcança na ficção a mesma potência vernácula e imaginativa de suas melhores canções. Chico Buarque escreveu um romance poderoso sobre o amor e a posse, a memória e a história.» — O Estado de S. Paulo

«Chico não é só um músico de sucesso que faz literatura. Ele está entre os grandes narradores brasileiros contemporâneos. Leite derramado despeja sobre o leitor, é verdade, uma profunda tristeza. Mas é uma tristeza fértil, que nos ajuda a matizar os grandes actos da história.» — O Globo

«Leite derramado é um livro divertido, que se lê de um estirão. Sem saudosismo nem adesão subalterna ao que está aí, a invenção realista de Chico Buarque é uma soberba lufada de ar fresco.» — Folha de S. Paulo

«É mais do que um livro, mais do que um romance. É uma radiografia da solidão.» — El País

«Leite derramado cutuca e devassa com olhar cortante as mazelas da vida brasileira.» — Folha de S. Paulo