Da próxima vez, o fogo. Ou melhor, desta vez.

É a chegada da não ficção de James Baldwin ao catálogo Alfaguara – depois dos aclamados romances Se o Disseres na Montanha, Se Esta Rua Falasse e No Quarto de Giovanni, chega esteDa próxima vez, o fogo, ensaio breve e poderoso do autor e pensador norte-americano, ícone do século XX na Literatura, no Pensamento e na luta pelos Direitos Civis. Obra-prima da concisão, eis um volume de ressonâncias bíblicas mas com os pés bem assentes da terra. Uma terra à qual todos pertencemos, nascidos iguais. Pelo menos, idealmente.

 

«Deus mostrou a Noé o sinal do arco-íris, não mais haverá água, da próxima vez, o fogo!»

 

Este livro galvanizou toda uma nação quando foi publicado pela primeira vez, em 1963. Foi um dos primeiros a dar voz à luta do movimento dos Direitos Civis. Composto por dois textos intensamente pessoais — «A minha masmorra estremeceu», uma carta ao seu sobrinho, escrita no centenário da abolição da escravatura nos Estados Unidos, e «Aos pés da cruz», ensaio sobre a relação entre raça e religião —, Da próxima vez, o fogo revela-nos a vida singular de James Baldwin, politicamente comprometida e interiormente conturbada. Ao mesmo tempo que nos dá conta do que foi crescer no bairro nova-iorquino do Harlem, faz uma condenação sem reservas do terrível legado da discriminação racial na sociedade americana. Enquanto reflete sobre os dilemas da espiritualidade à luz da religião e da sexualidade, lança um olhar provocatório sobre as contradições políticas que condenam os negros à invisibilidade ou à violência, desferindo um ataque direto, mas pacificador, à hipocrisia que reside no coração do país da liberdade. O primeiro texto, «A minha masmorra estremeceu», tomaria conta da quase totalidade de um número da revista The New Yorker, em novembro de 1962, atraindo muita atenção mediática e estabelecendo Baldwin como uma referência no tema.

Este é um dos testemunhos mais inspiradores de sempre sobre as profundas raízes dos conflitos raciais na América e sobre a procura íntima de um lugar para si no mundo. Um clássico da literatura, disponível pela primeira vez em Portugal, 60 anos depois da edição original.

 

 

 

O autor

 

James Arthur Baldwin nasceu a 6 de agosto de 1924, em Nova Iorque e morreu a 1 de dezembro de 1987 em França, país que foi essencial no seu percurso de vida. Ensaísta, romancista e dramaturgo teve assumiu um papel de intelectual público determinante, nomeadamente entre o final dos anos 50 e início dos anos 60, nos Estados Unidos e, mais tarde, também, em grande parte da Europa Ocidental.

O mais velho de nove filhos, James cresceu no difícil bairro do Harlem; entre os 14 e os 16 anos, trabalhou como pregador numa pequena igreja, período sobre o qual escreveu no seu romance semiautobiográfico, Se o Disseres na Montanha. Depois de terminar o liceu, iniciou um período de empregos precários e mal pagos, fazendo em paralelo um percurso de iniciação literária autodidata no bairro de Greenwich Village, lugar boémio (e literato) por excelência da cidade. Em 1948, partiu para Paris, onde viveu durante oito anos. Em 1957, regressaria aos Estados Unidos para se tornar uma figura da luta pelos Direitos Civis, movimento que abalaria uma democracia consolidada na qual, no entanto, nem todos eram tratados como iguais. Mesmo 100 anos depois de uma Guerra Civil na qual essa foi uma das questões charneira. Uma questão ardente, na verdade, ainda sem fim à vista.

Na visão da revista The Atlantic, e sobre os textos que compõem Da próxima vez, o fogo, «estas palavras são tão eloquentes no seu fervor e tão incendiárias na sua honestidade, que conseguem inquietar todos os leitores.» Está na hora de inquietar os leitores portugueses.

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