Sim, os livros podem salvar!

O livro abre com uma citação do “Manifesto pela leitura”, da popular escritora e divulgadora literária Irene Vallejo: «Somos a única espécie que explica o mundo com histórias, que as deseja, tem saudades delas e as utiliza para o processo de cura.»

É ao encontro desta ideia que viaja o novíssimo Ler Para Viver, um guia prático e eficaz para quem quer sentir-se melhor através dos livros e da leitura. O que é, sem dúvida, o melhor de dois mundos.

Sandra Barão Nobre, a Biblioterapeuta mais conhecida no nosso país, quer tirar a biblioterapia do mundo académico e teórico, trazendo-a para a vida de todos os dias; afinal, é aí mesmo, no quotidiano, que se pode ajudar leitoras e leitores a viverem melhor.

 

O que é a biblioterapia?

A biblioterapia permite cuidar do desenvolvimento contínuo do ser humano, através da relação subjetiva e existencial que cada um estabelece com as histórias, e o seu objetivo passa por contribuir para o bem-estar de qualquer pessoa, ajudando-a a viver de forma mais plena e equilibrada.

O processo biblioterapêutico divide-se em quatro fases: identificação, quando o leitor se reconhece nos conflitos dos personagens; catarse, na libertação de sentimentos reprimidos através dos desafios vividos por aqueles; discernimento, contraponto entre a sua experiência e a dos personagens; e universalização, na ligação entre o que acontece no texto e a vida do leitor, que se coloca no lugar dos outros e percebe que não está só nas suas inquietações.

 

E livros de autoajuda, recomenda?

Um aspeto curioso que Sandra Barão Nobre destaca no livro é se ela «recomenda livros de autoajuda» nas suas sessões, já que quando faz referência a livros de ficção, quase nunca há controvérsia. «Cada biblioterapeuta tem o seu «tempero» ou «farmácia literária», e assumo que a minha é bastante eclética, fruto do caminho pessoal e profissional que fiz até chegar aqui. Portanto, sim, acontece‑me por vezes recomendar a leitura de livros que se enquadram na denominada «autoajuda» (embora eu prefira «desenvolvimento pessoal» como designação mais abrangente) — mas com muito menos frequência com que recomendo filosofia, história, psicologia, sociologia, ensaios de natureza variada ou até livros de gestão. A prioridade vai para títulos de ficção, poesia, literatura infantojuvenil, biografias, memórias e testemunhos, banda desenhada e novelas gráficas. Porquê? Porque, por norma, os livros de autoajuda, na sua formulação, são mais diretivos, taxativos, apresentam fórmulas concretas que é suposto os leitores seguirem para que algum aspeto das suas vidas melhore e, na sua linguagem, tendem a ser menos ricos, deixando menos margem de manobra à imaginação. (…) Porém, a prioridade será sempre a necessidade das pessoas ou do grupo de pessoas com quem estou a trabalhar, o que exige de mim uma postura flexível e empática. Se o livro que julgo mais poder ajudar essa pessoa ou grupo de pessoas for um livro de autoajuda, será o que recomendarei.»

 

Objetivos da biblioterapia

Muitos são os objetivos da biblioterapia, no entanto a autora resume-os em apenas dois grupos principais:  Emoções e comunicação: provocar a libertação de processos inconscientes; introspeção emocional e justaposição face às emoções dos outros; melhor entendimento das emoções; conhecer‑se melhor e aumentar a autoestima; verbalizar, exteriorizar e conversar sobre problemas; afastar a sensação de isolamento; estimular novos interesses e a imaginação.  Problemas e realidade: familiarizar‑se com a realidade exterior; clarificar problemas individuais; aprender com os problemas dos outros (sem ter necessariamente de vivê‑los também); ver os problemas de forma objetiva; aceder a informação para a solução de problemas; saber que há mais de uma solução para um único problema; tornar‑se consciente das falhas de carácter semelhantes à suas; encarar as situações de forma realista incentivando à ação.

 

Ler para Viver, inclui uma farmácia literária com mais de 200 sugestões de leitura, abrangendo vários propósitos – leituras para ganhar confiança, combater a discriminação, melhorar o humor, aproveitar o tempo, e muitas outras formas de aplicar o poder transformador dos livros.

Aumentamos a autoestima com Cor-de-margarida, de Capicua; erradicamos o bullying com Shuggie Bain, de Douglas Stuart e o machismo com Um quarto só seu, de Virginia Woolf. Pensamos na relação com o corpo com A Gorda de Isabela Figueiredo, aliviamos os desamores com Sinopse de amor e guerra, de Afonso Cruz, melhoramos o humor com Quartos de final, de Cláudia Andrade; ou despertamos para a sexualidade com As Primas, de Aurora Venturini? Estes são apenas alguns dos exemplos dos mais de 200 livros que a autora sugere na farmácia literária.  

 

Este livro inclui ainda um precioso prefácio da escritora Isabel Figueiredo:

«Ler é fazer uma viagem de aventura. Temos na nossa mão o bilhete de ida e volta, mas não sabemos o que iremos visitar. Que lugares, que situações e em que mentes viveremos? Não sabemos o que vamos encontrar na rua nem na página seguinte. Poderemos ter de nos esconder, defender, correr, adaptar, porque o livro é uma viagem na nossa cabeça, uma realidade virtual aí vivida, como um sonho. Podemos parar a leitura para descansar e nos recompormos. Nesse aspeto, o livro e a viagem real podem diferir em conforto. Ler para Viver é também um compêndio de história da biblioterapia, um repositório de bibliografia sobre o tema e uma farmácia literária, servindo assim diversos públicos. Aprendi muito com a Sandra Barão Nobre.»,

 

Venha daí. Já tem mais um pretexto para se deixar enredar pelos livros.

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