fotografia de Lara Moreno

Três Mulheres na Cidade: a revelação Lara Moreno

Elogiada por Rosa Montero. Saudada pelo mundo literário em Espanha. Lara Moreno estreia-se agora em Portugal, a pretexto do lançamento do romance Três Mulheres na Cidade na chancela Alfaguara.  Nele, estamos na Madrid dos nossos dias para conhecer a vida quotidiana de três mulheres assombradas pelo passado e inquietas com o presente. Um trio que urge conhecer.

 

A autora

Lara Moreno tem 45 anos e é natural de Sevilha. Vive em Madrid, onde trabalha como editora e ensina em oficinas de escrita. Publicou as coletâneas de contos Casi todas las tijeras (2004) e Cuatro veces fuego (2008), bem como vários livros de poesia, reunidos no volume Tempestad en víspera
de viernes (2020). Em 2013, publicou o primeiro romance, Por si se va la luz, uma obra coral em que «numa aldeia quase sem gente, a vida regressa de repente para mostrar que nada acaba realmente enquanto houver uma criança a fazer perguntas ao mundo». Um sentido de comunidade que já lançava pistas para o futuro da escrita de Lara e um volume alvo de um entusiástico reconhecimento por parte da crítica e dos leitores. Seguiu-se Piel de lobo (2016), que transformou a autora numa das vozes mais proeminentes da literatura espanhola da atualidade. Três mulheres na cidade, o romance mais recente – o terceiro deste percurso narrativo –, é o seu primeiro livro publicado em Portugal.

Ambientada à capital espanhola, depois de ter crescido em Huelva, Lara tomou Madrid também como protagonista desta história. Questionada numa entrevista acerca da cidade – se será um lugar onde se vive ou onde se sobrevive – a autora respondeu entre o lacónico e o divertido: “depende do dinheiro que tenhas”.

O livro

«É como se dentro de casa estivesse um animal. Não um animal pré-histórico e desastrado, nem um animal encurralado, embora tivesse alguma coisa de tudo isso. É um homem encolerizado não se sabe bem porquê. Pelo menos ela pensa que nada do que lhes aconteceu na vida pode justificar essa cólera.»

Apesar de se iniciar no masculino, Três Mulheres na Cidade é uma história de mulheres. Numa prosa elegante mas afiada, Lara Moreno (1978) mapeia um território habitado por gente invisível, compondo o retrato da vida de três mulheres que se cruzam num prédio, num bairro e numa narrativa de encontros e desencontros com os seus desejos e conquistas. Nesse edifício, situado no bairro La Latina, em Madrid, confluem as vidas de três mulheres: Oliva, presa numa condição de risco; Damaris, mulher imigrante que passa os dias a cuidar dos filhos dos patrões e todas as noites volta à sua casa, nos subúrbios; Horía, uma marroquina que veio em busca de uma vida melhor e que agora vive na casa do porteiro.

O pequeno apartamento interior do quarto andar é a casa de Oliva, que se encontra aprisionada num relacionamento perigoso e abusivo. No terceiro andar, luminoso, Damaris passa os dias a cuidar dos filhos dos patrões. Todas as noites, contudo, volta para a sua própria casa, atravessando o rio que divide social e economicamente a capital espanhola. Damaris aterrou em Espanha em busca de um futuro melhor, depois de um terramoto na Colômbia ter devastado a sua vida. Idêntica é a história de Horía, que chegou a Madrid em busca de uma existência mais benévola. Marroquina, Horía chegou primeiro à cidade de Huelva, para trabalhar na apanha da fruta. Agora, vive na pequena casa do porteiro, no mesmo prédio onde habita Oliva e onde trabalha Damaris.

Três mulheres na cidade pulsa com a vida destas três personagens, vida em que o presente é um cerco tão doloroso como o passado. Com uma voz literária terna, mas acutilante, Lara Moreno mapeia um território íntimo e um território político-social, compondo o retrato de uma grande capital europeia a partir das histórias de quem a habita. Um retrato quase sempre invisível e cheio de feridas, que transforma este livro num reduto de coragem e compaixão. E também de um ponto de vista político, empenhado, gesto necessário, na visão da autora, que já afirmou “por muito feminista que julgues ser, não estás livre da violência de género. Eis um retrato com o qual é simples relacionarmo-nos. Por estarmos na vizinhança geográfica, por estarmos na vizinha emocional.

Estas mulheres somos nós.

16,97 

Três mulheres na cidade

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